Vês nuvens porque estás acima delas ou porque o chão te convém ser inatingível?
Porque preferes render-te a uma "vidinha" em que ninguém espera que lutes pela VIDA?
Raios partam os que vivem no passado, os que suspiram e esperam uma brecha de sorte num futuro que já chegou e há muito partiu.
Raios me partam a mim que outrora sorri enquanto escrevia "cravo as unhas nas recordações do que talvez venha a ser"... Shame, shame on me! Não lhe chamando perda de tempo, chamo-lhe imaturidade, ingénua esperança etérea e cor-de-rosa de que as palavras que se diluíram com aragens se materializassem um dia num vento forte, daqueles que arrepiam a pele e chamam aos céus os cabelos. Este vento sopra forte e independente, puro, leve, brutalmente crú. É o vento perfeito que pensava que só poderia existir em divagações, utopias românticas. Ele existe! Ele faz-me querer abrir as asas e perder-me em rodopios com todas as folhas soltas, todos os cheiros colhidos dos campos, rodopios estonteantes de músicas inacabadas que se atropelam, interpelam e prolongam em fá maior. Este vento não me faz imaginar uma cumplicidade que culmina na pacatez duma velhice ao som dum acordeão; Mas faz-me querer ser jovem para sempre e sempre ter forças para voar e rodopiar mais, mundo fora, ventania de verão que fere a pele, temporal de sinuosos invernos. Juntos seríamos tempestade tropical, furacão, sol e noite e eclipse lunar, que as estrelas viriam espreitar de perto tamanha força que prostra a natureza.
Mas este vento sopra na direcção errada...