Errático, à deriva, deambulei. O sal e o céu por companhia, sem tempo nem azul. Numa manhã de verão, encostei-me a uma sombra. Cansado de naufragar, atraquei-me a um cais sereno. Ali sarei os golpes duma erosão lenta que me havia roubado o brilho. Embalado por promessas, serenatas ao luar. Esqueci as ondas que me davam vida. Diziam então que era belo e reluzente. E fiquei. Atracado, sempre ao mesmo sereno cais. Adormeci. Não me lembro de quando caí no sono, não lembro o cerrar de pálpebras. Sonhava, talvez. Quando acordei, perdido, tempestade! As amarras tinham sido cortadas, talvez corroídas pelo tempo! Assustado, quis fugir, não tinha para onde me virar! Trovoada, golpes no convés, quase me afoguei! Parei... Reconheci o instinto que me mantinha vivo, enchi os pulmões daquele áspero ar. Flutuei. Fiz remendos, trabalhei-me, recuperei-me. Reencontrei-me. É grande, o meu mar. Nenhum cais chega para mim. Sem procurar, encontrei o meu lugar. Sorri. Errático, à deriva. Sem amarras. Pertenço aqui. Mesmo que este lugar seja vazio, sem ti. Se um dia chegares, estarei aqui.
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