Kundera já me tinha aprisionado nos seus enredos, metáforas inebriantes, onde sempre me fazia sentir mais próxima de mim, ou daquela que pretendia ser. Comecei pela óbvia, inevitável, Insustentável Leveza, sequiosa de emoções poéticas como só na adolescência se consegue, do alto duma incipiente arrogância intelectual que não domei convenientemente até hoje. Foi assim que descobri que “A Vida Não É Aqui”, ou que antes aquela inconformada sentença me pescou irremediavelmente, nos iscos palavreosos do poeta Jaromil. Jaromil, nome curioso que nunca se me despegou da memória, do protagonista que fazia sentir à deriva nos ecos da sua estória. Estranho duplicado de intenções… Chorava-lhe as dores como se fossem minhas, vivia as suas ousadias como se me pudesse atrever.
Este é um romance sofrido, distante, ou talvez demasiado pessoal, que me deixou, escritas em cicatrizes, algumas mágoas angustiantes (como a da penúltima página, quase como um castigo, se me abrir numa estéril brancura, nua de sequer um esboço de letra).
Hoje, à distância de mais de uma década vertida, entre o gotejar de dias e horas e apressados anos de fotografias trémulas, já nem saberia reproduzir a narrativa com um mínimo de fidelidade. Traiçoeira, ou apenas selectiva, a memória que me fez guardar deste romance o que de melhor me trouxe: um sentimento de identificação de ideais, de não conformidade, da diferença que acreditava então ser fulcral à afirmação pessoal. Hoje, ao invés de chorar por estar deslocada na vida, ou esta deslocada de mim, julgo ter aprendido que maravilhoso é o aprender, o buscar, a verdade de quem se é; que a aventura da viagem é de facto mais importante que a chegada a um destino previsível.
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