O meu instinto anda a querer dizer-me qualquer coisa... e eu não estou a gostar do que começo a ouvir.
Os meus Sábados também já foram diferentes, os Domingos sempre um pouco mais tristes; continuam a ser. Também comigo tudo mudou de repente. Dum sábado para um domingo, precisamente, fiquei sem chão, o tecto desabou e com ele pensei que a minha vida toda. Achei que os planos deixaram de fazer sentido, achei que nunca mais poderia rir com gosto e que tinha ficado uma cratera no local onde antes guardava o coração.
Sim, fui feliz, como se é feliz quando se pensa que se alcança o topo do mundo e das sensações, quando se quer tanto uma coisa que se chega a acreditar que ela existe sem ela estar lá. Como uma ‘gravidez psicológica’, talvez tenha sido este amor tão perfeito, que não tinha perfeição em lado nenhum. Foi parido a dois, com ternura, amizade, paixão, - e sim, porque não chamar as coisas pelos nomes? – amor. Durou demasiado tempo, demorou-se demasiado tempo em cada uma daquelas fases que se deve sugar com fervor e passar de mão dada para a seguinte. Algo se perdeu. Talvez saiba até esmiuçar o quê e o quando e o porquê, mas já não vejo propósito nisso.
Tirei o tempo necessário para a auto-comiseração. Não tanto assim, que também nunca fui muito dada a olhar para trás. Mas chorei, às escondidas e nos ombros que serão sempre Amigos. Chorei no comboio, envergonhada por mostrar tamanha fraqueza a caras atónitas e felizmente anónimas. Chorei desorientada, chorei magoada, chorei rios que pudessem partir em busca da razão que nunca soube. Ele tinha partido, sem pré-aviso, sem justificação, sem sinais de desamor. Partiu com medo, encolhido, enterrou a cabeça na areia e não mais de lá a tirou.
Não aponto o dedo, não o culpo de nada em que eu não seja também culpada. Estou em paz, comigo e com ele e desejo-lhe (não preciso de vincar que com toda a honestidade, ele sabe que eu só digo o que quer que seja desse modo) que seja extraordinariamente feliz.
É tão mais simples perspectivar à distância, quando as memórias já foram lavadas. Tão mais fácil relativizar quando a escala já não é a mesma.
Não cheguei a reencontrar nada do que perdi. Obviamente também não procurei, porque só procuro o que quero. Nem quero regressar àquele lugar, àquela pessoa que fui, com limitações, sempre presa pelas vontades de outra pessoa, pelos limites, por querer ter o que não podia porque não existia. Vejo agora que o que eu pensei ser o topo do mundo era afinal a rampa de lançamento para outros universos, que ainda nem tive tempo de descobrir! Eu não pertenço a um cantinho, apertada entre dois braços; nunca poderia ser feliz sem as asas abertas! Eu sou do mundo! Tenho fome e sede de viver todas as sensações, mereço rir até me engasgar, mereço todos os medos do desconhecido, mereço os beijos inesperados, mereço os poemas e as músicas dedicadas, as flores colhidas no campo, mereço cada fotografia tremida. A minha ambição é uma apenas, mas tão grande… Eu quero, e vou, ser Feliz! Só ou bem acompanhada pelas grandes planícies da vida, por cima das estrelas e sob os oceanos. Quero tudo, todos os lugares, todos os sabores, sem limites!
Descobri tantas coisas que não me havia permitido sequer imaginar... às vezes é preciso deixar arder, morrer para renascer mais forte. Hoje, sinto-me tão mais EU. Ainda que seja Domingo. =)
Viro costas, não te sigo mais por essas rotas.
Perdeste a bússola e vagueias, procuras quem não te quer achar.
Desmistifico, sei quem sou e não mais.
Na bagagem, três dedos de sensatez e as cicatrizes para te recordar.
Não há mais nada para ti aqui.
Ver-te ao longe, como se me tivessem oferecido um presente envenenado. A não-reacção, os pés paralisados e a cabeça desligada do resto do mundo; o não poder gritar e fugir para a outra realidade, a alternativa que criei, onde tu não tens lugar, onde não conheço o sabor dos teus beijos, o teu cheiro, onde não oiço os teus pensamentos a ecoar, estridentes, na minha cabeça. Nessa realidade não dói saber que não sou eu que te faço sorrir, não há lugar para memórias tristes, não há a secreta vontade que me vejas também, a sorrir para o meu par, que sorri de volta e me fecha na palma da mão o sorriso terno e tolo dos apaixonados.
Por que caminhos caminhei, que não consigo encontrar o caminho de volta? Descurei a precaução, e o coração fugiu a galope para longe das minhas rédeas... Não posso desejar que nunca tivesse acontecido, não me arrependo, porque foi - sabes bem – genuíno, em cada momento. Mas desejo, e como desejo!, voltar a ser quem Eu era antes de ter baixado as armas e ter deixado entrar a tua luz. O tempo incomoda e pica e arranha, como uma camisola de lã que não se consegue nunca despir, o querer retroceder e não encontrar a mudança, o saber que nunca o que foi tornará a ser e, também, que todos os blocos de gelo derretem. Está na hora de voltar a página e celebrar o amanhã.
Mau argumento de sequela, este filme errou o público. Actores que não sabem fingir um sorriso, sequer tentam o beijo desinteressado. As legendas: desfasadas, com entrelinhas que decidimos ignorar em complacência. A banda sonora que apela à libertação e o céu que fica, pálido, sem surpresas.
Tenho as palavras coladas ao esterno, embargadas, secas e empasteladas, não fluem com a naturalidade de quem conversa no escuro e espanta o sono, com gosto, como gosto. Evidentemente, as emoções andam desalinhadas, não me querem sair em linha recta, arquivadas por intensidade e ordem cronológica. Saem em ondas espumosas, revoltadas, à revelia da ordem que tinha imposto a custo, arrastam consigo todos os oceanos onde me podia perder. Quando olho nos teus olhos, só silêncios à espreita, intenções não ditas, gestos que se arrependem a meio… Recuos. Nos meus, recantos de dor que sabes decifrar. Daquela dor tua... Tua porque a inventaste. O rol das tuas culpas só te convence a ti; sou eu quem não é perfeita o suficiente para cativar o teu tempo, sou eu quem não é forte o suficiente para me querer dar (apenas) a quem me quer bem. Tu, não mereces uma das minhas sílabas. Mas escrever-te-ei até te exorcizar. Porque são os silêncios escuros que me corroem os dias, que não sei encontrar-te na ponta dos meus dedos, onde te tive tão certo, te senti seguro de ti e tão feliz.
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Confissões de uma Mulher de 30
Coração de Amores (Im)Perfeitos
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