Segunda-feira, 18 de Maio de 2009

O AMOR QUANDO SE REVELA - Fernando Pessoa

O amor, quando se revela, 
Não se sabe revelar. 
Sabe bem olhar p'ra ela, 
Mas não lhe sabe falar. 

Quem quer dizer o que sente 
Não sabe o que há de dizer. 
Fala: parece que mente 
Cala: parece esquecer 

Ah, mas se ela adivinhasse, 
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse 
Pr'a saber que a estão a amar! 

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente 
Fica sem alma nem fala, 
Fica só, inteiramente! 

Mas se isto puder contar-lhe 
O que não lhe ouso contar, 
Já não terei que falar-lhe 
Porque lhe estou a falar...

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publicado por Ventania às 19:45
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Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2008

Começo a conhecer-me. Não existo.

Começo a conhecer-me. Não existo.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,

ou metade desse intervalo, porque também há vida...

Sou isso, enfim...

Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.

Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.

É um universo barato.

 

 

Álvaro de Campos, in "Poemas"

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publicado por Ventania às 21:21
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Domingo, 9 de Novembro de 2008

Apontamento - Margarida Pinto

 

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.

Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada, descuidada.
Caiu, e eu fiz-me em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
E os deuses que há debruçam-se da escada.
Para ver o que a criada fez de mim
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
E os deuses que há debruçam-se da escada
E sorriem à criada
Não se zanguem com ela.
São tolerantes...

A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu, partiu-se, caiu
A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu, partiu-se, caiu
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio

O que era eu, o que era eu?

Alastra a escadaria atapetada de estrelas.
Ao fundo um caco brilha entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
E os deuses olham-o por não saber por que ficou ali.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.

O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio

O que era eu, o que era eu?
Ai, o que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?

 

 

Álvaro de Campos

sinto-me: de alma partida
publicado por Ventania às 00:58
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