De quem é a cara abatida, de olhos mortiços, que me devolve o espelho?
Porque rebentou aquela lágrima calada, que se perpetua na face e na alma? Será o degelo do coração? Escorrem-me as memórias a cada som, cada cor... E invejo a tua amnésia selectiva.
Sofremos, por opção. E choramos, e berramos, contra ventos e mares e paredes, esperneamos e reivindicamos o que é nosso por direito, assim o cremos. Acalentamos a dor com achas de memórias do futuro e culpas do passado.
P.S. Este blogue não é um diário
I knew I was going to get severely hurt. Still, it was worth it. No regrets, ever.
Desejo-te perto e vens buscar-me, levas-me de urgência escadas abaixo para contemplar o rio à beira-chuva. Descalços, ambos, por relvas e troncos e pardais. Sensualidade molhada de seios e umbigo, arrepios, do frio e da proximidade da tua pele. Não sorris, sequer vocalizas o que quer que seja. Os teus dois olhos escurecidos, carregados de verdade. Pegas-me nos pulsos e olhas-me de frente como se me fosses anunciar um fim de mundo. Sério, grave. Os lábios entreabrem-se como que a desenhar palavras no ar, como que a tomar coragem. Toda eu um ponto de interrogação, exclamação, reticências… O cabelo molhado, sem ordem, a enganar. Um fingido cansaço desarma e a respiração acelera. Pingos grossos acariciam a cara, lambem os ombros, deslizam matreiros pelas costas. A névoa que sempre separa os meus olhos dos teus dissipa-se num bafo. Procuro ler-te, ansiosa por pular para dentro dum sonho. Murmuras: “E se disser que gosto de ti?” Conheço bem esta espiral, que sempre impões diante de mim, sem portas nem refúgios, apenas o infinito, aberto, à espera de ser colhido. “Quando o pensamento de mim te siga a todas as horas, quando souberes que a vontade é maior do que só a de ter o casulo do ego acarinhado; Quando reconheceres muito mais que uma doce empatia. Quando sob pálpebras cerradas o coração chamar o meu nome. Só nesse dia voltarás a ter-me tua.”
Solto uma mão e com um polegar afago a tua face desmascarada. Apertas-me contra o peito, não te importas de confessar uma lágrima, espessa, outra. Carinho, dor, amor, identidade. Estes que somos.
Por te amar, mudei. E decidi tornar a amar só quando esse dia chegar. Naquele abraço permanecemos, sem tempo, enquanto a chuva molhar.
Errático, à deriva, deambulei. O sal e o céu por companhia, sem tempo nem azul. Numa manhã de verão, encostei-me a uma sombra. Cansado de naufragar, atraquei-me a um cais sereno. Ali sarei os golpes duma erosão lenta que me havia roubado o brilho. Embalado por promessas, serenatas ao luar. Esqueci as ondas que me davam vida. Diziam então que era belo e reluzente. E fiquei. Atracado, sempre ao mesmo sereno cais. Adormeci. Não me lembro de quando caí no sono, não lembro o cerrar de pálpebras. Sonhava, talvez. Quando acordei, perdido, tempestade! As amarras tinham sido cortadas, talvez corroídas pelo tempo! Assustado, quis fugir, não tinha para onde me virar! Trovoada, golpes no convés, quase me afoguei! Parei... Reconheci o instinto que me mantinha vivo, enchi os pulmões daquele áspero ar. Flutuei. Fiz remendos, trabalhei-me, recuperei-me. Reencontrei-me. É grande, o meu mar. Nenhum cais chega para mim. Sem procurar, encontrei o meu lugar. Sorri. Errático, à deriva. Sem amarras. Pertenço aqui. Mesmo que este lugar seja vazio, sem ti. Se um dia chegares, estarei aqui.
I still miss you...
I still miss your smile...
I still miss your light...
I still want (you to want me) to hug you...
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
I miss your smile...
I miss your light...
I miss you...
Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Tento fugir-te, trabalhando, escrevendo, lendo, fotografando. Escusado. Todos os caminhos vão dar a ti.
Uma cor, um relato, uma canção. Tudo sempre sobre ti, sobre o que nós não somos. A impedir de me esquecer das saudades que tenho de ti.
Hoje atrevi-me a revisitar aquele céu dramático, pautado de guarda-rios, onde o paraíso estava tão perto. Ouvi o som das doces águas, da tua voz, o cheiro dos lírios entranhou-se na minha alma. Por um momento, um bater de asas duma efémera, o tempo parou e a realidade ausentou-se de mim. Sopraste-me um beijo… e tornei a ser feliz.
Quem te deu esse direito, de pôr e dispor do brilho dos meus olhos com o abrir dum sorriso? Quem deixou a porta do infinito aberta para que invadisses o meu mundo com um mero vislumbre de ti? Irónico o modo do Universo esbofetear quem se atreve a duvidar, quem insiste em encurtar as rédeas das emoções.
…
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Hoje, poderia ser tua para sempre.
Having said this so many times, I didn't got to say it once more:
"Take A Chance On Me"
If you change your mind, I'm the first in line
Honey I'm still free
Take a chance on me
If you need me, let me know, gonna be around
If you've got no place to go, if you're feeling down
If you're all alone when the pretty birds have flown
Honey I'm still free
Take a chance on me
Gonna do my very best and it ain't no lie
If you put me to the test, if you let me try
Take a chance on me
(That's all I ask of you honey)
Take a chance on me
We can go dancing, we can go walking, as long as we're together
Listen to some music, maybe just talking, get to know you better
'Cos you know I've got
So much that I wanna do, when I dream I'm alone with you
It's magic
You want me to leave it there, afraid of a love affair
But I think you know
That I can't let go
If you change your mind, I'm the first in line
Honey I'm still free
Take a chance on me
If you need me, let me know, gonna be around
If you've got no place to go, if you're feeling down
If you're all alone when the pretty birds have flown
Honey I'm still free
Take a chance on me
Gonna do my very best and it ain't no lie
If you put me to the test, if you let me try
Take a chance on me
(Come on, give me a break will you?)
Take a chance on me
Oh you can take your time baby, I'm in no hurry, know I'm gonna get you
You don't wanna hurt me, baby don't worry, I ain't gonna let you
Let me tell you now
My love is strong enough to last when things are rough
It's magic
You say that I waste my time but I can't get you off my mind
No I can't let go
'Cos I love you so
If you change your mind, I'm the first in line
Honey I'm still free
Take a chance on me
If you need me, let me know, gonna be around
If you've got no place to go, if you're feeling down
If you're all alone when the pretty birds have flown
Honey I'm still free
Take a chance on me
Gonna do my very best, baby can't you see
Gotta put me to the test, take a chance on me
(Take a chance, take a chance, take a chance on me)
Ba ba ba ba baa, ba ba ba ba baa
Honey I'm still free
Take a chance on me
Gonna do my very best, baby can't you see
Gotta put me to the test, take a chance on me
(Take a chance, take a chance, take a chance on me)
Ba ba ba ba baa, ba ba ba ba baa ba-ba
Honey I'm still free
Take a chance on me
And that’s how the story goes:
"The Winner Takes it All"
I don't wanna talk
About the things we've gone through
Though it's hurting me
Now it's history
I've played all my cards
And that's what you've done too
Nothing more to say
No more ace to play
The winner takes it all
The loser standing small
Beside the victory
That's her destiny
I was in your arms
Thinking I belonged there
I figured it made sense
Building me a fence
Building me a home
Thinking I'd be strong there
But I was a fool
Playing by the rules
The gods may throw a dice
Their minds as cold as ice
And someone way down here
Loses someone dear
The winner takes it all
The loser has to fall
It's simple and it's plain
Why should I complain.
But tell me does she kiss
Like I used to kiss you?
Does it feel the same
When she calls your name?
Somewhere deep inside
You must know I miss you
But what can I say
Rules must be obeyed
The judges will decide
The likes of me abide
Spectators of the show
Always staying low
The game is on again
A lover or a friend
A big thing or a small
The winner takes it all
I don't wanna talk
If it makes you feel sad
And I understand
You've come to shake my hand
I apologize
If it makes you feel bad
Seeing me so tense
No self-confidence
But you see
The winner takes it all
The winner takes it all...
P.S. Infelizmente, eu tenho sempre razão e o meu instinto nunca me engana...
Todos os meus amigos me dão bons conselhos. Em última análise, todos me dão o mesmo conselho… Se não os sigo não é por não saber que são bons, os melhores, ponderados e que vêm de quem me conhece e me quer bem. Tenho dificuldade em perceber o que é que realmente quero e como fazer as coisas da melhor maneira, sem me magoar e sem magoar mais ninguém.
A C., que me conhece profundamente e que me adivinha, que esteve lá todos os dias, incessantemente, a amparar cada grito mudo, compreende que o P. me abalou o sistema como nenhum outro homem o poderia alguma vez fazer, compreende que vai ainda muito além da personificação de todos os ideais (até o F. sabia disso). Sabe que as cicatrizes não saram nunca e teme que a minha vida seja pautada por este sentimento, tão avassalador que não se sabe como gerir, que transvasa e perde dimensão nas definições meramente verbais. Compreende que provavelmente poderia gostar tanto do P.C. como gostei do F., a lifetime ago, com todos os significados que isto acarreta. As diferenças são o que entretanto aprendi e cresci, os erros que não voltarei a cometer, são os sonhos que sonhei e os sentimentos que descobri.
O G. é fã do P.C. por todas as razões óbvias: o tipo é perfeito, charmoso, romântico, tem encantos que não acabam e uma rara e apetecível doçura; o G. sente as coisas da mesma maneira que eu e verbaliza até os pensamentos que eu faço por ignorar. E acredita desde o primeiro momento que existe aqui um romance por escrever (ou talvez seja uma canção), apesar de entender que o P., ele próprio, com aquele mau génio e aparente frieza, me fascina simplesmente por ser ele.
A L. sabe que a indefinição de sentimentos é lixada e que as relações não dependem apenas de sentimentos, mas de timings, de memórias, de circunstâncias… Sempre terra-a-terra, chama-me à realidade quando já deixei a imaginação levar-se por um papagaio de papel, com uma pergunta desarma-me e coloca em causa as minhas próprias certezas.
A S. sabe que as paixões nos fazem perder o norte e confia que eu tenha alguma lucidez para não repetir os erros que critico. É o exemplo real de que, quando menos se espera, a bússola emocional toma juízo e os olhos abrem-se para ver o que sempre foi óbvio.
A R. ainda não se inteirou da profundidade da estória, não compreende as atitudes de nenhum dos dois, mas confia no final cor-de-rosa-algodão-doce, com toda a sua candura e justa indignação. Já o M. disponibilizou a sua rede de contactos para arranjar um outro protagonista para este enredo, provavelmente a solução mais simples, fora a vida uma equação.
O C. temeu quando lhe contei o que ia fazer; quando percebeu que não estava a brincar (levo os meus sonhos muito a sério) profetizou uma mudança que afinal foi temporária. Não tem conselho para mim, por se ver reflectido no P. Curiosamente, são diametralmente opostos um do outro em tudo o resto, menos no estoicismo quixotesco que o resto do mundo sabe ser um cómodo escudo para as dores que se arrastam.
A L.C. confirma que há pessoas cuja mera presença nos é nefasta, que o único caminho é em frente; e também sabe que há pessoas que não nos permitem continuar por esse caminho, porque nos amarram para sempre. Será que é o impossível que nos atrai, pelo desafio, pelo lado poético do drama?
A M.B. conhece-me há poucos meses, mas o suficiente para me adivinhar as angústias e diagnosticar que o P. é apenas um tonto a perder tempo, dele e nosso. E tem toda a razão. Não quero seguir estes passos, o meu tempo é demasiado precioso, cada minuto que perco nos lamentos é um minuto a menos da minha rota.
A M. disse-me há dias que sempre achou que o F. não tinha nada a ver comigo. E não tinha mesmo, mas talvez fosse parte do encanto; os opostos (des)equilibram-se? Uma coisa é certa: libertei-me dum fardo de condicionalismos que nunca podiam ser para mim.
A M.M. conhece o P. melhor que eu e bem melhor que a mim. Vê-se arrastada para tumultos emocionais quando só quer estar sossegada e achar a sua felicidade, onde não sabe mas sabe que será longe do P. Acha que devo, mais uma vez, tentar uma abordagem que o obrigue a escutar e a encontrar uma racionalidade no irracional que é gostar de alguém assim, como eu gosto dele. Aconselha-me o mesmo que eu aconselho ao outro vértice do triângulo.
A T. detesta ambos (um por motivos pessoais e o outro porque me faz sofrer). Já sofreu as mesmas dores, lamenta um percurso triste, e congratula-se do momento em que o céu ficou mais claro e a chuva parou.
A C. acha que a chave para conquistar um homem é maltratá-lo, seduzi-lo e ocultar o lado lunar. Por mais que me sinta tentada a atestar que esta teoria resulta, não me consigo colocar nesse papel. Não sei ser quem devo, só sei ser quem sou. E perco tanto por isso…
A F. em poucas frases resume ‘what it’s all about’: o que queremos é ser amadas e só devemos fazer o que achamos que nos faz felizes. Ambas sabemos o que é perder o chão dum dia para outro, sem indícios nem razões. E ambas sabemos que há males que vêm por bem.
E eu? O que é que eu acho?... Vou ver se me acho e depois conto.
Acredito que as pessoas, na sua essência, não mudam. Querendo, podem limar-se arestas aqui ou ali, acontece a maturidade e as escolhas que se fazem, mas nos alicerces que nos fazem ser quem somos não há volta a dar-lhe. Estes alicerces manifestam-se cedo, fruto do que vamos conseguindo colher do que nos rodeia, aprendizagens, exemplos, fruto das heranças que carregamos, do contexto em que somos despejados. Ser quem somos, como um fardo indissociável da identidade. Nem sempre fácil, mas dos poucos incontornáveis da vivência, mais que da vida, de cada um, por muito que se tente fugir da própria sombra.
P.C.*, devias estar acordado a esta hora. É que quando estou a falar contigo as nódoas negras sentimentais esquecem-se de existir.
*P.C. stands for Prince Charming.
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