Não deixa de me repugnar um pouco, e de me ofender bastante, que as pessoas troquem de opiniões como quem troca de cuecas. Vil facilitismo, este com que permitimos que se passe de besta a bestial, consoante nos agrade mais ou menos ao centro do umbigo.
Hoje atrevi-me a revisitar aquele céu dramático, pautado de guarda-rios, onde o paraíso estava tão perto. Ouvi o som das doces águas, da tua voz, o cheiro dos lírios entranhou-se na minha alma. Por um momento, um bater de asas duma efémera, o tempo parou e a realidade ausentou-se de mim. Sopraste-me um beijo… e tornei a ser feliz.
Quem te deu esse direito, de pôr e dispor do brilho dos meus olhos com o abrir dum sorriso? Quem deixou a porta do infinito aberta para que invadisses o meu mundo com um mero vislumbre de ti? Irónico o modo do Universo esbofetear quem se atreve a duvidar, quem insiste em encurtar as rédeas das emoções.
…
Já chega de me queixar de tudo nos últimos tempos (não, não é só TPM deslocada). Queixo-me do calor lá dentro, do frio e da chuva lá fora, queixo-me do emprego que ainda não mudou e das ofertas de novos empregos, queixo-me se durmo demais ou se não consigo dormir, queixo-me de ter tanto que fazer e de não conseguir fazer nada, queixo-me se ele não liga e das conversas que tem quando liga, queixo-me de estar aqui e do mau jeito que dá sair agora…
Por favor, mandem-me calar! Já nem eu me posso ouvir! Eu não sou assim… Não sei o que me aconteceu, mas tenho saudades de mim e quero-me de volta!
- em que olhas para o espelho e não reconheces quem vês?
- em que recordas quando pensavas ter tudo e percebes que tudo na vida é efémero?
- em que chegas à conclusão que aquele dia em que te faltou o chão era inevitável e foi um dos mais libertadores de sempre?
- em que recordar aquele primeiro beijo no comboio te leva às lágrimas?
- em que davas quase tudo para voltar 3 meses para trás no tempo?
- em que sentes que a tua saúde mental já teve melhores, mas também piores, dias?
- que devia ter sido o mais feliz da tua vida e sentiste apenas solidão?
- em que tiveste incontroláveis ataques de riso?
- em que percebes que a tua dor é idêntica à dor que criticas?
- em que sabes que a vida não é aqui mas daqui não arredas pé?
- em que as boas notícias foram más e as más notícias foram boas?
- em que olhaste nos olhos dum amigo e a dor da saudade se antecipou?
- em que te apeteceu acender o rastilho antes de sacudir a pólvora das mãos?
- em que o frio que sentes vem de dentro para fora?
Eu chamo-lhe ‘qualquer dia desta semana’. Ou TPM deslocada.
O meu ano correu francamente mal... Como se costuma dizer, quanto mais se sobe maior é a queda. Como boa cientista que sou, nada melhor que o belo do gráfico para ilustrar a situação (escalas e unidades omitidas por se tratar de parâmetros absolutamente subjectivos).
Pelo lado positivo, porque há SEMPRE um lado positivo... a tendência é de subida, só pode ser!
Aqui fica a previsão optimista e pouco realista para 2009:
Eu às vezes consigo ser muito dramática. Hoje, ao ler à distância de alguns dias um e-mail para um Amigo (daqueles em frente a quem se podem desenrolar quilómetros de entranhas sem pudor), tive de rir à gargalhada. Para não chorar ou porque as múltiplas e sucessivas tragicomédias da minha vida me ensinaram a tudo relativizar. Fica o excerto:
"(...) o coração como se tivesse sido atropelado por 7 camiões indianos, comido e cagado por uma vaca e novamente atropelado (depois da bosta já estar seca), tendo ficado espalmado, altura em que foi mastigado por outra vaca e regurgitado para o Ganges. Something like that."
Dói recordar.
Doem as pernas entrelaçadas, os cabelos afagados, os pés ousados.
Doem os beijos que ninguém viu, os sorrisos tão verdadeiros.
Dói o nariz no pescoço, a língua nas orelhas, cada curva arrepiada.
Dói a lágrima derretida que não soube esconder-se.
Doem os dedos entretidos, os pêlos espantados.
Doem as carícias lambidas, os lábios longos e mornos.
Chega a doer o cheiro das flores, o vapor do duche, o abraço nú.
Dói aquela sede, o suor e o prazer.
Dói a palavra que escapou a medo, o brinde enganado, a gargalhada abafada.
Dói andar à deriva, mas também atracar. Dói regressar.
Queria abraçar-te com força e dizer que está tudo bem, que tudo passa.
Imagens que se perpetuam, acordam dentro do peito em sobressalto quando as críamos adormecidas num recanto escondido. Quando os olhos se fecham e o corpo se rende ao cansaço, soa uma frase que talvez tenhamos ouvido, ou talvez tenhamos apenas imaginado, que abala os alicerces e acorda o sangue. Chapada de água do mar, fria, salgada, a impor a sua presença molhada, não permite mágoas choradas em surdina, soco no peito.
Queria ser um pilar de granito, inabalável, onde pudesses agarrar-te, um refúgio à prova de som onde viesses aninhar-te.
O som insinua-se de mansinho, entra por frestas distraídas, as sombras crescem, nuvens de fumo mescladas no burburinho. As forças, minha e tua, fraquejam, erráticas, e falham até as palavras. Estagnado nos degraus, perdido.
Queria saber-te bem, completo, pleno, ainda que aí do outro lado tão longe de mim.
Adivinho um olhar derramado, cheiro ressequido, músculos empastelados que desistem das aparências. Procuro em todos os livros que não escrevi o bálsamo morno que te traga alento. Só tinta sem forma nem rumo. Para te dar, apenas todo um abraço soprado ao ouvido.
Pode um grito conter todos os suspiros, desassossegos, todas as indignações, inquietações, desilusões, desamparadas expectativas?
Gente Arejada
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